José de Sousa Ramos
José de Sousa Ramos
(1948 - 2007)
José Rodrigues Santos de Sousa Ramos, matemático de grande mérito, faleceu a 1 de Janeiro de 2007, em Lisboa, tendo sido sepultado no Sobral da Adiça. Foi uma perda imensa para o desenvolvimento da matemática em Portugal e o tempo acentuará sem dúvida a dimensão dessa perda.
Nascido na Quarteira em 1948, licenciou-se em Física pela Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa e nela viria a doutorar-se em Matemática, tendo exercido a sua actividade profissional a partir de 1972 no Instituto de Física e Matemática e no Centro de Física da Matéria Condensada, em Lisboa, na Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa e nos últimos catorze anos, no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa.
Na memória dos que o
conheceram perdurará a estirpe nobre do seu carácter humano, feito de grande
simplicidade e humildade extremas, bem como a sua dedicação incansável e
sistemática aos estudantes, dia após dia, ou ainda o deleite da partilha da
sua vasta cultura matemática e física.
Mas além disso José de
Sousa Ramos deixa um legado escrito notável que seria empobrecedor reduzir
ao mero número de mais de duas centenas de artigos publicados em revistas e
publicações internacionais com referee, na sua maior parte
pertencendo ao domínio dos Sistemas Dinâmicos, em particular da chamada
Dinâmica Simbólica.
A importância da obra científica de José de Sousa Ramos reside na sua grande capacidade criadora e na sua autonomia mental, fazendo-o vogar por vezes muito à frente dos demais, com pensamento original, que por isso mesmo, resultava frequentemente em pensamento transgressor, carecido naturalmente de um burilamento posterior, o que em nada surpreendia os que sabem que as verdades científicas nunca brotam como um destilado sendo antes conquistas conseguidas quase sempre sem os meios adequados do futuro.
Pode dizer-se de José de Sousa Ramos que criou uma verdadeira escola de matemática, o que é só por si uma obra rara e notável, como o foi há meio século atrás a que o eminente matemático José Sebastião e Silva nos deixou e cujos efeitos ainda perduram.
Os quinze doutoramentos
que José de Sousa Ramos orientou além de outros tantos que estavam em curso
até ao momento da sua morte atestam o vigor da sua influência. Aos seus
discípulos incumbe a tarefa de, sem destempo, divulgar, esclarecendo, a obra
do seu mestre, fixando-a para o futuro de maneira organizada e
sistemática.
Às instituições científicas do nosso meio caberá a honra de condignamente lhe publicar a obra, para que todos dela se possam beneficiar. Oxalá o nosso meio científico já tenha adquirido a maturidade necessária para tomar este desiderato como um dever.